chegando na curva da
reta final, se é que o fim existe despois do começo.
me lembro de quando eu
assisti o espetáculo “de carne, osso e concreto” em 2007 na primeira versão. me
lembro de ser tocada profundamente em conhecer brasília numa vivencia teatral,
eu que não a conhecia fiquei surpresa com sua história. me lembro de ter falado
depois de visto a peça que um dia ainda iria fazer aquela peça, eis que aqui
estou. destino ou não, hoje me sinto mais brasília por morar aqui e fazer parte
dessa peça.
desde 2007 pra cá minha
percepção da cidade se modificou, antes eu era uma menina que saia de uma
satélite em busca de sonhos que não me representam mais. hoje minha percepção
da cidade vai além dos seus monumentos. minha cidade é branca, mas tem terra
vermelha querendo cobrir sua assepsia.
depois de quatro meses
de ensaios, repetições e de apropriações o trabalho ganha forma, e nessa
arquitetura de corpos e movimentos colocamos nossa impressão, nossos sonhos,
nossas vozes, nosso suor, nossa presença. de carne, osso e concreto é um
espetáculo de presença, que cada instante é preciso estar atento para
marcações. mas também é respiro, é dança, é encontro de baixo bloco. é sorriso
quando olho pra tuti na marcha do hino de brasília. que bom poder subverter a
retidão de brasília por meio da arte.
sábado, 10 de março de 2012
no dia do despejo
trabalhei no meu cotidiano repetitivo, funcional. enquanto tudo era retirado as
pressas eu estava longe, bem longe, parada, estancada, sem fazer ideia. e tudo
era jogado, espalhado onde dava, onde ainda cabia as tralhas que a gente
acumula durante uma vida severina. e no fim do dia na volta pra casa, enrolado
com o vento e a noite que escondia umas poucas estrelas, senti um vazio ainda
mais agudo, ainda mais estridente. um vazio indigente.
eu estou cansada de
bater ponto como a menina burguesa de classe média de carne osso e concreto.
porque essa pobre de classe baixa, que sempre estudou em colégios públicos,
passou na faculdade, nunca quis entrar para o serviço público de merda está
cansada.
e toda razão é quebrada
com a dura realidade, crua e nua a sua frente... veio aquele choro estancado a
anos no corpo. o olho estranhou, estremeceu com a lágrima que não veio a
meses...
vi todos os meus livros
jogados... eu queria ressuscitar Jota Cristo e cobrar a promessa não
cumprida... Brasília nunca meu coube...
hoje acordei com esses
fleches de luz, seguindo um caminho ainda desconhecido. uma luz no fim no cu do
mundo.