terça-feira, 11 de março de 2014

encontro 24 - (vinícius, 11 de março, terça)

Hoje um martelo não para de bater na minha cabeça, principalmente após um ensaio importante de discussão no meio do processo criativo:  o espaço público urbano e seus desafios contemporâneos. Na cidade de carne, osso, concreto e azulejos, o que queremos em suas projeções? A cidade se rende a impetuosidade metrópole, se inclina para o caos no transito, se esforça para superar as crises da densidade demográfica, encontra o desafio de se manter patrimônio histórico. A capital da esperança ameaça se deitar, se projeta para o futuro e se apega a um insólito passado.

É por isso que em Brasília não há onde esbarrar. Os brasiliários vestiam-se de ouro branco. A raça se extinguiu porque nasciam poucos filhos. Quanto mais belos os brasiliários, mais cegos e mais puros e mais faiscantes, e menos filhos. Não havia em nome de que morrer. Milênios depois foi descoberta por um bando de foragidos que em nenhum outro lugar seriam recebidos; eles nada tinham a perder. Ali acenderam fogo, armaram tendas, pouco a pouco escavando as areias que soterravam a cidade. Esses eram homens e mulheres menores e morenos, de olhos esquivos e inquietos, e que, por serem fugitivos e desesperados, tinham em nome de que viver e morrer. Eles habitaram as casas em ruínas, multiplicaram-se, constituindo uma raça humana muito contemplativa.
                                                                                                                                                                               Clarice Lispector

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