segunda-feira, 21 de abril de 2014

encontro 43 - (roberto dagô, 21 de abril, segunda)

Parabéns pra você
nesta data querida
muitas felicidades
muitos anos de vida!

Há 54 anos, no dia de hoje, era inaugurada a nossa Capital, esse nosso quadradinho de terra vermelha, nosso tantinho de cerrado com seu cobertor de concreto, nosso recorte de céu, nosso empoçamento de Paranoá!

Comemoramos a data na sala de ensaio, de 14h às 23h ajeitando, afinando, apertando aqui e ali... O espetáculo finalmente caminha e, antes mesmo de entrar em cena, já tenho meus olhos sempre cheios de lágrima. Também tenho um sorriso, de um candango que veio cheio de esperança "pra vender farinha, o arroz e o feijão"! Cheio do orgulho de acreditar, de ter fé, que tudo será diferente, que beberá desse leite e desse mel que jorra de sua função na nova Capital! E os olhos grandes de curiosidade, espanto, sonho, ficam cheios de sangue enquanto, varas a postos, o cerrado vai sendo aberto e rasgado pra dar lugar à nova cidade. A vara corta o ar em sua música afiada, abrindo espaço para todos os sonhos de milhares de brasileiros que contam sua história num repente simples, calejado, rachado, ressecado, suado.. "vou falar do meu orgulho de ver Brasília nascer"!
E o candango bem roto e sujo que se mistura ao pó do Planalto Central vira oficial quando a cidade ja tem seu esqueleto erguido, vira oficial bem composto, que abandonou já sua mala da terra natal, que abandonou seu chapéu de trato humilde, que abandonou sua vara, seu instrumento de trabalho pesado... agora resta a postura ereta, respeitosa, o peito cheio, orgulhoso, o olhar formal, mas ainda exultante de prosperidade e expectativa com o nascimento de Brasília! É 21 de abril e todos cantam o hino de Brasília como se marchassem em direção ao próprio futuro!
Mas o peito também sofre com o excesso de oxigênio, e, ao final do hino, já não há ar que chegue pra cantar a histeria de um sonho que, a cada verso, cai por terra em toda a sua fragilidade, craquelando sob o sol do marco zero... O sonho começa a azedar como o leite prometido por Dom Bosco... é tudo grande demais para os olhos pequenos do candango, cansado de abrir o máximo de olhar para guardar todo aquele mundo de promessa dentro de si mesmo... os passos andam vacilantes pra trás porque pra frente é cada vez mais difícil ir... corpos caem de cima dos prédios como se chovesse no chão seco de Brasília e essa imagem não se apaga mais... "mas eu vou ficar aqui".

Nenhum comentário:

Postar um comentário