16/01/2014
... Eu nunca pensei que estaria de volta remontando essa peça tão querida pra mim. Tão parte de mim. Ali no branco daqueles textos, na potência daquelas palavras, na delicadeza daqueles sons, daqueles tons, tem tanto que eu fui, tanto que eu sou, tanto de onde estive e estou.
Fiz parte do grupo de concepção da primeira temporada do espetáculo e a cada dia que sento nesse chão de suor e ensaio para um novo dia de reestruturação dessa peça, sinto um arrepio fino subindo pela minha coluna e uma vontade de me juntar a todos a minha volta e me fazer carne, osso e concreto novamente. Antes de chegar no ensaio, me relembrei de meus rituais do primeiro processo e como sempre me fazia mergulhar na infinitude do céu sobre minha cabeça. Pude então olhar para cima e enxergar o absurdo de ouro que se fazia frente aos meus olhos. Poesia abstrata de cores. Sorri.
A palavra de ordem agora é re-construção. Eu pude sentir que agora com um grupo tão novo, tão criativo, tão pro ativo, que iremos erguer com muita poesia, muita entrega, muita música e muita disposição um novo espetáculo. Brasília se faz gigante a nossa volta, nós contamos os anos enquanto ela pisca seus olhos. E ao cantarmos seu hino e cantarmos sobre seus construtores, pude sentir Brasília sorrindo de volta para mim.
Estamos partindo do início de Brasília, quando ela se consolidava, quando seus monumentos eram erguidos, quando seus trabalhadores despencavam da altura de cruéis andares para fazerem sua pele mais bonita, sua roupa branca e cinza mais adornada.
... Passeando pela memória de tantos que subiram aos céus para construir a beleza da cidade, que depois engoliria seus corpos ao chão ....
A algum tempo não sentia o conforto da criação nas minhas mãos, na minha voz, no meu corpo, mas o mais importante, me sentir um corpo criativo dentro do espaço, dentro de um todo, dentro de um coro. Ouvir o hino de Brasília, finalmente cantado em uníssono, me trouxe uma sensação de brado, de finalmente pertencer à honra dessa cidade. Isso me foi possível através desse coletivo de atores. E juntos iremos construindo esse todo com tantos alguns.
... Foi quando olhei para o lado que vi Jéssica e Tati com vozes tão fortes e energéticas que pude deslumbrar a colcha de retalhos que construíamos sobre nossa cidade de concreto e delicadezas...
Eli Moura
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